CRIANÇAS SUPERDOTADAS
- MITOS -
Vitória, ES
1998
ABAHSD
·
fundada em 19/11/1991.
·
entidade da sociedade civil.
·
sem fins lucrativos.
·
congrega pessoas interessadas em questões de inteligências,
criatividade e superdotação.
·
tem como objetivos fundamentais:
-
sensibilizar para a importância de se criar condições favoráveis ao
desenvolvimento e aproveitamento do talento, da inteligência e da criatividade;
- contribuir para a formação e aperfeiçoamento de recursos humanos
destinados à pesquisa, à identificação e ao atendimento de superdotados.
Apresentação
A Associação Brasileira para Altas Habilidades /
Superdotados (ABAHSD) sempre se preocupou com a falta de compreensão e o
excesso de negligência que a sociedade reserva aos portadores de altas habilidades.
Muitos são os mitos que foram criados a seu respeito e poucas são as propostas
concretas para favorecer o seu desenvolvimento.
A professora Dora Cortat Simonetti, Mestre em
Educação, com tese na área de Educação para Alunos Talentosos em Ciências, elaborou
a presente publicação, com o objetivo primordial de desmitificar os paradigmas
que se criaram em torno do portador de altas habilidades.
A ABAHSD espera que, com estas informações esteja
colaborando com pais, professores e comunidade em geral, para que se passe a
ver o superdotado, como um indivíduo que necessita de tanto estímulo e
orientação, quando qualquer outro cidadão.
Nenhum país pode se dar ao luxo de ignorar os
talentos que neles existem.
ABAHSD
A DIRETORIA
MODELO TRIÁTICO DA
SUPERDOTAÇÃO
Destaca um conjunto de três traços marcantes,
individuais. Posteriormente, neste modelo foram incluídos três marcos sociais:
a família, a escola e os companheiros.
Esta é
a concepção proposta por Renzulli (1978, 1984, 1994), a partir de estudos com
pessoas criativas e produtivas. Os superdotados, segundo ele, seriam aqueles
que estivessem na intersecção dos três círculos. Os que apresentam componentes
de dois círculos seriam muito inteligentes e, se de apenas um, seriam
talentosos. Ex.: uma habilidade acima da média, como talento matemático. Os
gênios não são tratados nesta concepção. Altamente criativos são capazes de
romper modelos.
Atribuir-se
a Guy H. Wipple a criação do termo superdotado, como uma denominação das
crianças com uma capacidade superior a normal (Enciclopédia de Educação Monroe,
1920)
A
atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) utiliza este termo.
O que é um
MITO?
· Uma narrativa com utilização de elementos simbólicos e sobrenaturais
para explicar o mundo, a natureza, o sentido de viver (acepção original).
·
Uma leitura imaginária do mundo e do que nele acontece.
·
Uma forma de propor, onde a imaginação tem amplos direitos.
·
Uma base para o trabalho posterior da razão.
- A leitura especializada, o convívio social, familiar e escolar são as bases deste nosso trabalho.
" É ótimo
aluno e tem sempre as melhores notas."
O bom rendimento acadêmico
pode ou não acontecer. Ser um aluno "nota dez" nem sempre é indicador
de superdotação.
O que
dados empíricos indicam é uma freqüência relativamente alta do desempenho
inferior, aquém do potencial deste aluno.
Por
que? Dentre os fatores responsáveis para que isto ocorra estão:
-
as características da escola atual, voltada enfaticamente para a
informação pela informação;
-
a falta de estímulo do professor em desenvolver o potencial criativo
(ele foi capacitado para trabalhar o pensamento convergente, ou seja, aquele
que se volta para uma única resposta);
-
a tendência em igualar tarefas e conteúdos, massificando o ensino;
-
a pouca sensibilidade para atender o aluno que se destaca por suas
idéias e habilidades, ás vezes considerando "inoportuno";
- É importante aceitá-lo como ele é: curioso, perguntador, etc. não deixá-lo desocupado e, muito estímulo são meios para que fique integrado e não "atrapalhe".
"Quociente
Intelectual alto é uma características das crianças superdotadas."
A
pesquisadora Erika Landau, fundadora do Instituto de jovens para Promoção das
Artes e da Ciência, em Telaviv, o qual atende os alunos em PROGRAMAS DE
ENRIQUECIMENTO, fez uma pesquisa com crianças problemáticas, de baixo nível
intelectual. Verificou, depois de um ano de trabalho com elas, que o Q.I. da
maioria tinha aumentado cerca de 30%.
Assim,
o Q.I. é uma função variável,. Segundo ela, para que os dados colhidos tenham
algum valor deve-se levar em conta o contexto social e étnico das crianças. É
preciso comparar seus resultados com a opinião de professores e o desempenho
escolar da criança.
Diversos
estudos (Willerman e Friedler, 1975) confirmados por pesquisas (Lewis e
Michalson, 1983) mostram que não se pode identificar a superdotação de crianças
sob a base das pontuações gerais do Quociente Intelectual.
"São
estranhas, pequenas, franzinas e usam óculos com lentes grossas."
É uma
idéia errônea que felizmente vai ficando no passado. Na verdade, a criança
superdotada é diferente, mas diferente em certos aspectos.
Tem se
desenvolvido um variado número de listas de características para identificá-las.
A observação nos indica que nem toda criança apresenta ou manifesta todos os
atributos listados em investigações diversas.
Sem
dúvida, é significativo, sobretudo para os familiares e a escola, estar
conscientes de que esta é uma das maneiras de se identificar a superdotação.
Mas, o importante é não usar uma lista como tabela de pontos. São indicadores e assim devem ser
analisados.
Por
sua vez, parece correto o estereótipo de que o superdotado usa óculos (com ou
sem lentes grossas) com maior probabilidade que as outras crianças - (Projeto
de Investigação Gulbenkian sobre Crianças Superdotadas, 1979).
"São
hiperativas e possuem cérebro com mais neurônios."
Não
procede. Às vezes, realmente não param, agitam-se em busca de mais saber,
demonstram muita energia, mas não têm as características clínicas de
hiperatividade.
Os
estudos clínicos de cérebros doados, como o de Einstein, mostram que a
quantidade de células nervosas é a mesma. Apontam no sentido de que possam
existir maior número de conexão, mais interação entre elas.
Estes
circuitos nervosos diferenciados podem ser responsáveis por alguns traços que
os superdotados apresentam, em relação à crianças de sua mesma faixa etária,
como por exemplo:
·
amadurecimento no modo de ser;
·
habilidade para perceber a relação entre fatos;
·
flexibilidade de idéias;
·
versatilidade de interesses;
·
imaginação fértil;
·
curiosidade com qualidade e inesgotável;
·
rapidez na percepção do mundo e de seu meio;
·
memória acentuada;
·
senso humor;
"Não
necessitam ajuda, pois já que são tão talentosos podem conduzir-se sozinhos,
sem precisar estímulos."
Não procede. No bebê. Os
hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, ainda não se especializaram. Isso
significa que as conexões entre os cem bilhões de células nervosas não se
desenvolveram por completo.
Ao longo da primeira
infância cada um dos neurônio se ligará a milhares de outros numa rede de cerca
de cem trilhões de conexões.
Para que essa trama precisa
e delicada se estabeleça o cérebro necessita de DESAFIOS.
Assim acontece também com os
superdotados. As oportunidades educacionais para estas crianças devem
caracterizar-se pela riqueza de incentivos que as levem, inclusive, a
identificar suas próprias potencialidades.
Devem caracterizar-se também
pelo conhecimento de que ela têm dificuldades que podem ocorrer na adaptação
escolar, na relação de aula/ professor/ colegas, no ajustamento social.
"Dizer a
uma criança que ela é talentosa, muito inteligente, superdotada, faz com que
fique vaidosa e se sinta superior às demais."
Depende de como se faça.
Maslow, um psicólogo da linha humanista, coloca que o reconhecimento social é
uma necessidade do ser humano. Assim, estas crianças precisam saber sobre suas
potencialidades e seus familiares orientados no sentido de ajudá-las, e frear o
exibicionismo.
Facilmente perceberam que
também têm limitações. O importante é que após identificadas, não fiquem
abandonadas. Respeitá-las, incentivá-las para que se desenvolvam no seu jeito,
e não como desejam que elas sejam.
Elas não querem ser vistas
como diferentes. Para identificá-las é importante uma observação sistemática e
persistente, tanto de comportamento como de desempenhos.
Verificar a intensidade,
freqüência e consistência de suas peculiaridades, bem como seu histórico
familiar, sem a preocupação de rotular. Como toda criança, querem AMOR e
COMPREENSÃO.
"Um
programa educacional para superdotados é algo sofisticado, caro e
especializado."
Não é assim. A educação
destas crianças é a mesma das outras. Elas são, acima de tudo, pessoas. O
compromisso de educador é o mesmo que ele tem com outra criança.
É importante para a criança
superdotada ou talentosa sentir que é atendida como uma pessoa e não como
"alguém diferente". Para a sua sensibilidade acentuada isto faz muita
diferença.
O que elas precisam são de
oportunidades como qualquer aluno. Não resta dúvida que estas oportunidades
devem estar no nível de suas aptidões, de seus talentos. Não em escolas
especiais, mas através de ENRIQUECIMENTO, quer seja na própria sala de aula,
grupos em sala de recursos, estudos independentes, através de visitas,
demonstrações, palestras, aceleração e diversas outras modalidades
Igualdade de oportunidades
não quer dizer oportunidades iguais.
A educação Inclusiva é, sem
dúvida, um grande desafio. Significa repensar direitos de cidadania, aprimorar
o processo ensino-aprendizagem, reestruturar os sistemas de ensino filosófica e
administrativamente, capacitar profissionais.
"O
professor de alunos superdotados necessita também ter altas habilidades."
Não necessariamente.
Entretanto, a sensibilidade e a afetividade são componentes essenciais para
conviver com estas crianças. É preciso que ele goste de desafios, para poder
desafiar; que saiba como desenvolver o pensamento criativo para criar situações
estimuladoras. Para tanto, necessita conhecimentos e oportunidades de formação.
Respeitar seu aluno como
pessoa é fundamental. Orientá-lo como descobrir seu talento e mostrar-lha que
também tem fraquezas. Ajudá-lo a conviver com seus pontos fracos e fortes,
paara que se sinta mais seguro e, com certeza, feliz.
Segundo James Jallagher, um
estudioso nesta área,
"a educação dos superdotados é fascinante porque leva a refletir
sobre o envolvimento da sociedade e da cultura como desenvolvimento das
potencialidades do ser humano."
É, sem
dúvida, necessário disposição para aceitar este desafio, onde se incluem o
interesse e a motivação, a perseverança,
dentre outros traços.
"É sempre o melhor em tudo que faz. É
ótimo da perfeição."
O fato de ser destaque numa
área não significa necessariamente que será em todas. Por isso, é difícil
traçar um papel único e perfeito da criança superdotada, como se fosse um
modelo. É um grupo bastante heterogêneo a nível de traços, características e
habilidades.
Na
relação da família e da escola com ela é freqüente a expectativa e a exigência.
Espera-se muito desta criança. São equívocos que precisam ser consideradas: não
pressionar, não exigir. Excesso de pressão pode levar ao desinteresse, à
fadiga, à desmotivação, à rejeição do próprio talento.
Provavelmente
com o propósito de chamar a atenção sobre a ampla variedade de capacidades, o
MEC ficou com o seguinte conceito de superdotação, proposto pela oficina de Educação
dos Estados Unidos:
"serão
considerados superdotados, educandos que apresentem notável desempenho e/ou
elevada potencialidade, nos seguintes aspectos, isolados ou combinados:
capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo,
capacidade de liderança, talento especial para artes, capacidade
psicomotora".
"São de
classes sociais mais favorecidas economicamente."
Não é
verdade. Podem ser encontras em todas as classes sociais, independentes de cor
e raça. O que preocupa é que crianças superdotadas que são carentes
economicamente perdem, por desigualdade de condições, a oportunidade de
participação social.
Perdem
duplamente!
As
crianças não começam sua vida com uma etiqueta de "superdotação". As
oportunidades de mostrar seu talento dependem muito das pessoas que convivem
com elas, sobretudo familiares e professores.
Crianças
de baixa renda têm menos oportunidades, até em sua escolarização normal.
Preocupa a possibilidade de, não tendo seu talento reconhecido, estimulado,
desenvolvido, elas não desenvolvam seu potencial e ele se perca, às vezes de
forma irreversível.
Situações
como estas estimulam a trabalhar em uma educação para superdotados/talentosos.
"Sempre
apresentam sinais de precocidade: ler muito cedo, andar ou falar bem novos,
tocar um instrumento musical com perfeição em tenra idade, etc."
Necessariamente,
não. Pode ou não acontecer. É preciso que haja constância das aptidões, ao
longo do tempo, não apenas em faz da infância. Há registros de casos de
precocidade do aparecimento de habilidades que permaneceram apesar de
obstáculos e frustrações. Outros, não.
Como
crianças estão em processo de desenvolvimento, muitas vezes, mesmo precoces,
não efetivam todo o seu potencial. Daí serem considerados portadores de altas habilidades e "não ainda
superdotados".
O fato
é que não se deve estereotipar. Influem fatores ambientais: genéticos e a
interligação entre ambos. Existem portadores de deficiência que podem também
ter superdotação. Não são poucos os exemplos de cegos, ou surdos ou
paraplégicos talentosos ou superdotados. São paradigmas, formas de pensar, que
necessitem ser revistas.
A
premissa básica é que cada criança tem potencialidades e nosso compromisso é
trabalhar para que se desenvolvam.
O
desenvolvimento social e emocional dos superdotados estão no mesmo nível que
seu desenvolvimento intelectual e acadêmico."
Se
desejarmos ajudar uma criança superdotada não podemos esquecer que elas não
crescem da mesma maneira em todas as dimensões da personalidade. Uma Criança
pode ter a idade cronológica de 07 anos, mas intelectual ter 11 e apenas 04 em
seu lado emocional. Por isso, comparam crianças entre si não é aconselhável.
Elas
possuem especiais vulnerabilidades que podem provocar conflitos em suas vidas.
Estes desnível é difícil para quem convive com elas porque em momentos têm
independência de raciocínio, usam linguagem precisa, fazem projetos difíceis,
em outros apresentam-se como criancinha frágeis e dependentes.
Estes
aspectos não podem ser esquecidos, sobretudo nas decisões de aceleração
escolar. O "equilíbrio" entre as diferentes idades - cronológica,
emocional e social -, se esquecido, pode conduzir à desarmonia
bio-psico-social.
Caminhar
junto com elas, dialogar, ajudá-las na construção de sua identidade pessoal é o
papel daqueles que convivem com estas crianças.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
ABAHSD. Anais
do X Seminário Nacional de Superdotação, 1994.
________. Oportunidades
educacionais para alunos portadores de altas habilidades, 1996.
ALENCAR, Eunice Soriano. Psicologia e Educação do Superdotado, São Paulo, EPU, 1986.
BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Subsídios para Organização e Funcionamento
de Serviços de Educação Especial, Série Diretrizes, 9, 1995.
_______________________________________. Diretrizes para o atendimento Educacional
aos Alunos Portadores de Altas Habilidades/Superdotação e Talentos, Série
Diretrizes, 10, 1995.
FREEMAN (org.). Los
niños superdotados, Aspectos pedagógicos e psicológicos, Madrid: Ed.
Santillama S.A. 1985.
LANDAU, Erika. A
coragem de ser superdotado, São Paulo: CEREC, 1990.
METTRAU, Marsyl Bukkool. Nos Bastidores da Inteligência, MERJ, 1996.
NOVAES, Maria Helena. Educação para superdotados e talentosos, in A educação dos Superdotados,
São Paulo: SE / CENP, 1998.
SIMONETTI, Dora Cortat. Técnicas de projetos: uma estratégia de ensino dirigida às necessidades
potenciais dos educandos , in O Ensino de Ciências e Matemática na América
Latina, Campinas: Papirus, 1984.
Fonte: ABAHSD
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